Pulseira e lembranças

17:00


Era um dia ensolarado, não me lembro bem dos detalhes, faz um tempo. Eu precisava de alguém. Você estava lá. Ouviu o meu silêncio e se aproximou. Um abraço foi o suficiente para eu desabar. As lágrimas caiam, lentas como a brisa da noite. Pela primeira vez naquele ano me sentia segura. As incertezas ainda estavam lá, mas não incomodando tanto. Depois do nosso rápido, último, encontro precisei ir. Levei você comigo. O cartão tinha o seu cheiro, a pulseira me lembrava o seu sorriso inseguro ao me observar abrir o presente. Por muito tempo aquele pingente dourado me fazia acreditar que estávamos perto. A distância não importava porque você estava ali comigo.

Você me ajudou. Eu acreditei que daria certo e continuaremos juntos mesmo longe. Mas o tempo passou. Sua existência ainda era clara para mim, mas sua distância a apagou aos poucos. Recebi apenas uma mensagem um mês depois... Ela dizia que as coisas tinham mudado. Na verdade, você mudou. Não apenas de endereço, mas também seu cabelo e seu status. O cartão eu rasguei. A pulseira ficou, junto com as lembranças.  Ela fazia parte de mim, você fazia.

Até que um dia senti algo me puxar, o pingente havia ficado preso. Eu puxei, a pulseira arrebentou. Eu tinha esquecido que ela estava lá. Na verdade deixei de lembrar. As lembranças não se foram, mas me acostumei com a existência delas. Você ainda existe, jogado em um canto qualquer do meu armário, só não é mais importante. Não é mais necessário para mim. Agora é apenas um pedaço do que já fui.

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2 comentários

  1. Nós somos feitos de muitos pedaços; uns maravilhosos, outros nem tanto. Mas todos igualmente importantes.

    Muito simbólico o ato de arrebentar a pulseira, como se soltasse das amarras do passado.

    https://fluxoconstante2.wordpress.com

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