Dias frios

15:31


Eu via pela janela as gotas de chuva cairem sincronizadas com as lágrimas em meu rosto. Estava sozinha naquela tarde fria. Me restavam apenas as lembranças. As perguntas. Um sentimento. As coisas sempre ficavam bem no final, mas isso mudou antes que eu pudesse perceber. Comecei a buscar em cada memória uma solução. Tudo que consegui foi mais arrependimento. Quis com todas as minhas forças mudar o passado, era tarde. Busquei culpados, mas não poderia ser inocente. Não era. A vida real não é resumida a vilões, heróis e mocinhos. Alguns tem mais de um papel. Naquele momento, eu estava confusa. Não sabia quais eram os papéis.
Me sentia invísivel e boba perto de gente tão ocupada para ouvir. Um caderno e uma caneta viraram meus melhores amigos. Tentei não borrar a tinta com a culpa que caia dos meus olhos. Queria que as palavras escritas levassem todas lembranças de mim. Desejei, impulsivamente, esquecer minha vida. Ninguém se importaria. Não existiria um amanhã para eu estragar de novo.
O espelho era tão amedrontador. Ele mostrava pouco, porém muito. Um rosto triste, cabelos bagunçados... cobertos por várias camadas disfarçadas com um sorriso torto. A noite surgiu lentamente. A casa ganhou vozes fortes e rígidas. Um tom suave, porém quase inexistente, amenizava um pouco o ambiente. A voz forte sumiu. O silêncio voltou. E todos os meus pensamentos também. Comecei a enxergar as pequenas aberturas na grade da janela quando vi uma borboleta passar. Mas as lágrimas insistiram em voltar ignorando a beleza ao redor. Não senti fome, nem sede. A fuga da realidade estava chegando. Deitei com todo peso que não aguentava mais segurar. O sono tinha sumido de novo. Resolvi fugir para o meu próprio mundo. Dormi. Finalmente consegui sonhar. Sonhei que viriam dias floridos e ensolarados.

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